sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Tricolor Napolitano


A vitória do Napoli frente ao Chelsea, na última terça-feira, pela Uefa Champions League, não só desencadeou uma crise no clube londrino, como também consolidou o ressurgimento, para o mundo, de um dos mais tradicionais clubes italianos, dono de uma fanática torcida, que tem nas glórias de hoje o afago para esquecer as dificuldades vividas na última década, quando se chegou a decretar a falência do clube celeste.

Não muito diferente do clube europeu, apesar da distancia geográfica, a trajetória do Santa Cruz, que em tempos passados enchia de orgulho seu torcedor, hoje o faz um fiel seguidor a despeito dos resultados ruins. O Clube italiano chegou a jogar a terceira divisão depois de ser “salvo” da falência por Aurélio de Laurentiis; o tricolor pernambucano penou por três anos na quarta divisão, mas com a força de uma massa fanática conseguiu subir o primeiro degrau para sair do fundo do poço.

Torcida sempre lota o Arruda
A torcida é outro ponto em comum entre os dois clubes; são duas hordas de seguidores fanáticos cujo amor e empenho ao time independe de sua condição e divisão. Os espetáculos de sofrimento e alegrias são uma marca registrada, tanto que o Santa Cruz é conhecido hoje por ser uma torcida que tem um time e não o contrário, como é o costume. O Estádio San Paolo, assim como o Arruda, é um palco adequado aos fanáticos seguidores cujos saltos e coreografias fazem tremer as arquibancadas e os rivais que por lá passam.

O exemplo dos azzurri deve servir de motivação para a cobra coral, pois é a mais clara demonstração de um trabalho sério e comprometido, como o realizado até o momento pelo tricolor sob o comando de Zé Teodoro. Cada passo tem o seu momento e sua vez e não adianta querer andar mais do que se pode, porque a queda pode ser fatal.

Cavani é um dos líderes do "novo" Napoli
Da mesma forma que os torcedores do Napoli vibraram com Lavezzi, Cavani e Cia, os tricolores almejam poder reviver no futuro as alegrias que Ramón, Sérgio China, Célio e Carlinhos Bala um dia trouxeram. Reviver dias como o da vitória sobre o super Corinthians da MSI com direito a Carlos Tevez e Mascherano em campo ou de disputas de igual para igual contra o Vasco de Romário é a meta não só do time, mas principalmente de sua torcida.

Os seis anos vividos amargando quatro rebaixamentos e fracassos sucessivos na quarta divisão começaram a ser recompensados com o vice-campeonato da competição em 2011. O projeto para voltar a Série A em 2014 é ambicioso, mas o Napoli vem mostrando que isso é possível e as glórias de outrora podem novamente ser vividas; resta esperar e saber caminhar por esses caminhos tortuosos até poder desfilar nos gramados da primeira divisão.

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

A alegria de uma Multidão

O clima de carnaval já entorpece os recifenses desde o mês de janeiro quando as prévias e aquecimentos, para a maior festa popular da cidade, botam os blocos nas ruas e os foliões para dançar ao som do frevo. Todavia, todo esse entusiasmo com a festa de Momo foi dividido, nesta última semana, com o futebol, mais precisamente o Clássico das Multidões, que levou mais de 45.000 pessoas ao Arruda para ver o maior clássico do Estado. A folia ficou por conta dos torcedores porque dentro de campo o jogo foi encarado com muita seriedade pelas duas equipes, cujas escalações só foram divulgadas poucos minutos antes das equipes entrarem em campo, desrespeitando não só o regulamento como também jornalistas e torcedores.

Denis Marques ficou preso na marcação rubro negra
O Santa veio armado com uma postura mais defensiva, contando com Denis Marques mais a frente sendo munido por Luciano Henrique e Flávio Recife, já que Carlinhos Bala foi recuado para fazer a função de terceiro homem de meio campo à frente dos volantes. Zé Teodoro colocou Everton Sena para ser a “sombra” de Marcelinho Paraíba durante todo o jogo e não deixar o camisa 10 do Sport jogar.

O Sport vinha com três modificações com relação ao time que enfrentou o Porto na Ilha do Retiro; Renê reassumiu a lateral esquerda, Rivaldo voltou ao meio de campo e Jael fez a sua estréia com a camisa nove do rubro negro. Depois de receber severas críticas de dirigentes, torcedores e imprensa por improvisar jogadores fora de suas posições de origem, o comandante leonino resolveu simplificar e colocar as peças em seus lugares de origem. 

Jheimy comemora o primeiro gol do Sport

A partida começou truncada, com muita disputa no meio sem que nenhuma dos times levasse maior perigo à meta adversária. Luciano Henrique, Diogo e Memo começaram bem a partida e faziam o jogo do tricolor fluir bem, mas esbarrava sempre em uma defesa bem armada por Mazola; a solução foi tentar os arremates de fora da área que não chegaram assustar o goleiro Magrão. O Sport, por outro lado, se apresentava mais organizado taticamente, no entanto, não conseguia evoluir seu jogo, pois seu camisa 10 estava muito marcado e os laterais não estavam dando conta em desafogar o jogo. 

Marcelinho Paraíba deixou sua marca
No primeiro vacilo de Everton Sena, Marcelinho disparou pela direita tocou para Jael, livre, chutar para a boa defesa de Diego Lima. A partir do momento que Rivaldo e Marquinhos Paraná começaram a sair para o jogo os espaços na defesa tricolor começaram a aparecer e foi aproveitando essas brechas que Paraná cruzou da direita na cabeça de Jheimy, que fez 1x0 para o Sport. Carlinhos Bala, Flávio Recife e Denis Marques foram peças nulas na equipe coral tanto que os dois primeiros nem voltaram para o segundo tempo e o terceiro, até que lutou, mas mostrou que o período de inatividade ainda pesa em seus ombros. Se 

Mazola acertou a mão em acertar o time, que culminou na melhor apresentação feita pela esquadra leonina em 2012, o mesmo não se pode dizer de Zé Teodoro. O treinador do Santa errou na escalação do time e deixou no banco dois dos mais habilidosos jogadores do elenco: Renatinho e Léo. O time poderia render mais com o primeiro jogando na lateral esquerda, no lugar de Dutra, e o segundo na vaga de Flávio Recife, para adiantar Carlinhos Bala para uma posição na qual ele é mais eficiente. 

Uma boa vitória para dar confiança ao time e estabilizar, por hora, o técnico do Leão da Praça da Bandeira. Para o Santa Cruz não há prejuízos maiores ou início de crise, pois não se pode ganhar sempre. Cabe ao Sport não achar que a ótima apresentação no clássico seja motivo de conforto e ao tricolor do Arruda serve de lição que, às vezes, a defesa não é melhor tática. A alegria do Sport só dura até o próximo encontro, desta vez na Ilha do Retiro, quando ou o Leão reafirma sua supremacia ante o rival ou sucumbe à sua força.

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Gigantes do futebol


O mundo ama odiar os Estados Unidos da América, isso é fato. Seja pelo seu posicionamento frente a questões da economia global ou por “meter o nariz” onde não foi chamado, em nome da “democracia, a verdade é que a terra do Tio Sam gera um mix de sentimentos nos habitantes do globo. Mas, é preciso tirar o chapéu para eles quando o assunto é administração esportiva e organização de festas. Não há povo no mundo que consiga tamanha repercussão de seus eventos como o norte americano e o Super Bowl, a grande final do futebol americano, é o melhor exemplo disso.

 A edição 46 desse mega evento aconteceu em Indianápolis, na mesma cidade que recebe a lendária prova automobilística das 500 milhas, para mais de 70.000 presentes no Lucas Oil Stadium e milhões ao redor do mundo divididos cerca de 190 países. O mais incrível de tudo é o fato de o futebol americano ser um esporte de massa nos Estados Unidos, e só. Ao contrário de seu irmão mais antigo, o rugby, o football não é tradicional e nem tem uma capacidade de agregação além das fronteiras dos EUA, não obstante o Super Bowl é o segundo evento esportivo em termos de audiência no mundo inteiro, só perdendo para a final da Copa do Mundo FIFA de futebol. Este ano, só na América, mais de 118 milhões de espectadores assistiram ao jogo.

Eu, particularmente, acompanho o futebol da bola oval há, mais ou menos, uns 4, 5 anos e devo confessar que, à medida que vejo os jogos, entendo as regras, as armações táticas, vou me deixando apaixonar por este esporte bruto, mas que valoriza a inteligência de uma estratégia bem armada. É um jogo cerebral como o xadrez; os peões da defesa protegem o quarterback para que ele possa distribuir a jogada para seus bispos, torres e, por que não, cavalos dado o tamanho descomunal de alguns atletas. Surpreende-me como muitos jogadores apanham o jogo inteiro e ainda assim conseguem jogar uma temporada inteira e isso me faz entender porque essa turma recebe salários tão altos. Queria ver os jogadores "cai cai", que disputam o campeonato brasileiro enfrentando a defesa dos Cardinals ou dos Saints para ver no que ia dar.

Tudo é planejado meticulosamente para o Super Bowl, a começar pela entrada das equipes, sempre com muita teatralidade, para dar mais beleza ao espetáculo. Confesso que o New England Patriots, ao entrar no campo de jogo ao som de Ozzy Osbourne, ganhou minha torcida. Todavia, a maior parte da torcida presente no estádio apoiava o New York Giants. Não obstante, a noite é só football; tradicional show do intervalo é, literalmente, um show. Este ano ninguém menos que Madonna armou o palco no meio do campo e fez uma apresentação impecável para entreter os fãs, que curtiam o jogo. Seria como colocar Ivete Sangalo para cantar no intervalo da final do Campeonato Baiano. O protocolo tradicional, que prevê 15 minutos de descanso, é estendido para meia hora e os espectadores não só não se importam como gostam de ver artistas consagrados neste palco cuja armação já recebeu Aerosmith e Sting entre outros.

O duelo entre o patriota Tom Brady e o gigante Eli Manning prometia ser uma revanche para o primeiro, que perdera para o segundo a final em 2008. E o duelo foi sensacional do começo ao fim do embate com os dois astros liderando seus companheiros a jogadas, se não espetaculares, sempre inteligentes. Com uma campanha fracassada nos minutos finais os Patriots, donos de uma vantagem de três pontos, permitiram uma série de avanços dos nova iorquinos, que viraram o placar, tendo Manning participação fundamental com um lançamento de 38 jardas para Mario Mannigham. O resultado corrobora a freguesia do time de Boston frente ao da Big Apple, transforma o quarterback campeão em um dos maiores da história deste esporte e consagra o futebol americano como o esporte de um só país mais global do mundo.

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

West Wall

Clássicos existem pelos quatro cantos do nosso redondo planeta nos mais variados esportes, mas o duelo entre West Ham United e Millwall, pela segunda divisão do campeonato Inglês, representa de uma forma peculiar como uma rivalidade bairrista entre trabalhadores comuns se transformou em uma das mais célebres rivalidades entre dois clubes de futebol. O duelo ganhou uma notoriedade tamanha no decorrer dos anos que foi agraciado com o filme Holligans, estrelado por Elijah Wood, cuja história narra as atividades da torcida organizada do West Ham que tem como ponto alto o duelo com o maior rival pela Copa da Inglaterra.

O curioso é que os dois times têm mais uma relevância histórica, que propriamente de glórias, títulos e
vitórias marcantes. O Millwall, por exemplo, passou toda a sua história entre a segunda e a terceira divisão dos torneios na terra da rainha e os troféus são raros para este clube centenário. O West Ham tem um desempenho um pouco mais honorável, não obstante quando joga a Premier League, a primeira divisão, ou briga para não cair ou fica no meio da tabela. A notoriedade obtida por este clássico veio mais pelo comportamento violento das duas torcidas que pelo futebol apresentado pelos times. Os embates entre os lunáticos torcedores, se é que podemos chamá-los assim, não raro deixam vários feridos e alguns mortos. O caso é tão sério que o primeiro jogo válido pela temporada 2011/2012 não foi transmitido pela TV pelo medo da truculência dos “donos” das arquibancadas. Um confronto em 2009 teve invasão de campo pelos holligans dos Hammers para provocar e agredir, dentro do estádio, os torcedores visitantes.

Apesar de toda essa notoriedade eu nunca tinha assistido a esse clássico. No último dia 04 de fevereiro eu sentei no sofá para ver o jogo e logo me chamou a atenção a segurança destinada para a partida. Acostumado a ver, no Brasil, as torcidas separadas por um cordão da polícia, fiquei surpreso ao ver uma parte considerável da área destinada aos fãs do Millwall, para que eles ficassem aglutinados em um setor fácil de ser controlado pela segurança. O knowhall da polícia inglesa em conter os violentos torcedores faz com que os principais pontos de acesso e trânsito dos que vão ao estádio sejam bem monitorados e a repressão é na mesma moeda. O problema está nos alleys, os becos tortuosos da periferia londrina, onde nem sempre a polícia chega, e as áreas pouco povoadas, preferidas para os encontros entre os brigões.

Um fato que me chamou a atenção depois de algum tempo foi perceber que o estádio estava com a lotação máxima permitida para o confronto, e que o jogo era mais parecido com o futebol real, e não com uma quase perfeita “simulação” de Playstation que passa sempre na ESPN ao assistir o Chelsea, Manchester United e City, o Arsenal, etc. O clássico era paixão, jogada feia, muitos jogadores do Reino Unido, como há muito não vejo na Premier League. Esse é o típico espetáculo que o apaixonado pelo futebol gosta de ver, porque os supertimes são bons para admirar, e assistir para deleite dos olhos, mas a realidade da grande massa não é ter Messi, Cristiano Ronaldo ou Rooney e sim os “craques da galera”, o melhor jogador do seu time no último jogo. 

Kevin Nolan foi expulso logo no começo do jogo

A partida em si não tem nada de mais. É um clássico como outro qualquer, aliás um clássico não é “um outro qualquer”, mas, em termos de rivalidade dentro das quatro linhas, não é muito diferente de um Real Madrid x Barcelona, Grêmio x Internacional, Milan x Inter de Milão, salvo pela elegância e charme que envolvem esses duelos de gigantes. O modesto Uptown Park foi o palco do espetáculo e como em qualquer confronto deste tipo a arbritagem foi severa e a primeira jogada mais dura foi punida diretamente com um cartão vermelho para um jogador do time da casa e, a partir daí, os remanescentes jogaram de maneira mais firme, sem, todavia, partir para jogadas mais agressivas. A vitória do West Ham foi o toque final de um espetáculo, que, se não foi tecnicamente maravilhoso, valeu pela experiência e só me resta, um dia, assistir in loco para fazer um novo relato.