Nos tempos mais ermos de nossa
história, os estádios de futebol eram basicamente ocupados por homens. Muitos
não consideravam um lugar para mulheres, muito devido aos excessivos elogios
aos que fazem o espetáculo dentro das quatro linhas.
Com o passar dos anos e a mudança
de muitos paradigmas e mitos de uma sociedade que se globalizou muito
rapidamente, não só as mulheres, como também crianças e idosos passaram a
freqüentar, em bom número, as arquibancadas.
A massiva popularização do
esporte bretão juntou rico, pobre, preto, branco, índio, pardo, enfim, botou
muitas diferenças de lado e surgiu uma nova “classe” social: o torcedor. Esse
tal de torcedor rapidamente saiu das paredes dos estádios e invadiu as ruas,
praças, escritórios, escolas.
Quem nunca ouviu ou soltou piadas
na segunda-feira depois de uma rodada de campeonato? As brincadeiras
futebolísticas aproximaram mais o faxineiro do dono da empresa do que qualquer
nova teoria administrativa ou estratégia de comunicação interna. Os “chatos”
que sempre zombam do seu time são os alvos prediletos quando seus times vão de
mal a pior.
Nas últimas décadas, todavia, o
futebol deu uma guinada em direção ao profissionalismo corporativo e
transformou muitos clubes em empresas. Esta nova filosofia, iniciada na Europa,
buscou agregar consumidores e não puramente os amantes da bola. Primeiro veio o
Fifa Fair Play para acalentar os ânimos dos jogadores cujos ânimos exaltados,
não raro, transformavam a grama sagrada em campo de batalha.
Depois, veio a modernização dos
estádios, que passaram a ser chamados de arenas e a experiência dos setores
populares, tendo em vista que eles foram diminuídos a uma proporção quase
irrisória. As normas das grandes entidades responsáveis pela gerencia do futebol
tentam transformar as arquibancadas em setores de um teatro onde se vai ver e,
eventualmente, aplaudir o espetáculo.
A vigilância afastou os brigões e
ajudou a punir os invasores de campo e dar uma maior segurança a quem vai ver
as partidas. Os racistas são vigiados de perto, mas as medidas para moralizar
os torcedores começaram a tomar ares de pura chatice de gola rolê.
Medidas querendo proibir os
palavrões nas arquibancadas não foram raras. Socialmente, pode-se até discutir
o fundamento de se usar palavras de baixo calão, mas a verdade é que um “poxa
vida” não vai traduzir nem aliviar a angustia ou raiva do torcedor. Querer
controlar o que vai ser dito por uma pessoa é demais e mitiga muito da
liberdade que se sente ao entrar em um estádio.
Essa “cultura” dos palavrões já
rendeu boas histórias. Já ouvi de jogadores, árbitros e bandeirinhas falando
que tem duas mães: a que lhe deu a luz e a que entra no estádio com ele. Não há
uma raiva contra a pessoa em si, mas sim o que ela representa dentro das quatro
linhas. O que sair daí e se transformar em algum tipo de agressão deve ser
severamente punido.
Recentemente, a torcida do Santos
foi proibida de levar um mosaico para um jogo contra o Corinthians com os
dizeres “TRI DA LIBERTADORES”, porque, segundo a polícia era uma clara
provocação contra o adversário que ainda não conquistou o torneio. Do jeito que
estão indo as coisas uma criança fazer piada com o time de um amigo da classe
será bullying e quando o ocorrido se der no local de trabalho será um dano moral.
Torcedor tem que ser torcedor, porque de seriedade e chatice o mundo já está
cheio.