A punição ao Corinthians que, em primeira instância e até julgamento de recurso, jogará sem torcida durante a Libertadores da América tanto atuando em São Paulo quanto fora é uma medida descabida, política e que em absolutamente nada vai resolver a questão se for tomada isoladamente.
Primeiro, não se pode punir
exclusivamente o Corinthians. A Libertadores é um torneio organizado pela
desorganizada Conmebol e o seu artigo 11 afirma que os clubes PODEM SER punidos
em caso da torcida fazer uso de sinalizadores e as penalidades vão desde mera advertência
até perda de licença, mas não faz nenhuma ponderação sobre como serão delimitadas
essas punições.
A FIFA proíbe o uso de tais
artefatos em estádios e a Conmebol sendo uma Confederação ligada a entidade
máxima do futebol deveria pautar seus torneios pelas normas da Federação. Para
piorar, os dirigentes sul americanos se esquivam de qualquer responsabilidade e
jogam a culpa na polícia, mas a verdade é que cada um sabe onde o seu calo
aperta.
O torneio é de responsabilidade
da Conmebol e ela deve ser responsabilizada na medida em que não tomou as providências
necessárias junto as autoridades locais para que materiais proibidos pela FIFA
e pelo seu regulamento não entrem nas praças desportivas.
O San José também tem sua culpa,
porque por mais que exista a proibição sua torcida faz até chuva de fogos de
artifício na entrada do time e os sinalizadores eram amplamente usados. Por
mais que fossem daqueles que fazem mais fumaça, que perigo, o que não pode, não
pode e ponto final! Na regulamentação de segurança não fala em poder um tipo e
não outro; não pode nenhum.
A polícia também está longe de
ser inocentada neste caso, porque permitiu que tais artefatos adentrassem na
mãos de pessoas não habilitadas e com riscos à segurança dos presentes, até
mesmo para quem ia manuseá-lo. Qualquer polícia do mundo precisa de atuação
preventiva e repressiva e a boliviana foi muito ativa nesta última, realizando
prisões de suspeitos e cúmplices.
O Corinthians também tem sua
parcela de culpa na medida que os atos de violência de sua torcida são tratados
como se não tivessem relação com o clube, o que não é uma verdade tendo em
vista a relação muito próxima entre dirigentes das torcidas organizadas e do
clube. Os mandatários do Parque São Jorge, como de grande parte dos clubes do
Brasil, tem uma estreita relação com as organizadas por mais negativo e
perigoso isso seja.
O principal culpado, claro, é
quem atirou o artefato. Pouco importa se o ato foi culposo ou doloso, pois o
erro está em utilizar em local público
um artefato perigoso de forma extremamente imprudente sem ter a perícia
necessária. Este assassino tem que ser tratado como tal e pagar conforme os
ditames da lei e dos códigos processuais, sem que haja precipitações e pré
julgamentos.
Todavia, no meio desse rebuliço
todo o Corinthians foi condenado sem julgamento e sem direito à defesa prévia.
Foi uma medida que desrespeitou todos os trâmites razoáveis de qualquer
processo. Os integrantes da delegação da torcida que estão presos do mesmo
sejam eles suspeitos de cometerem o ato ou cúmplices. Os dois que estavam com
restos de pólvora nas mãos não eram os únicos com fogos naquela noite e as
imagens até agora não mostram com clareza suficiente quem foi realmente o autor
do disparo. Isso está me cheirando a tribunal ditatorial. Mesmo que o cidadão
seja culpado deve passar por um processo justo e ser condenado. Não é
simplesmente encarcerar e pronto.
A punição pode até ser justa, mas
é descabida quando se analisa o histórico da Conmebol. A entidade nunca puniu
com tamanha severidade nenhum episódio de violência nos estádios sul americanos
em suas competições. Muricy Ramalho levou um pedrada vinda da torcida do Cerro
Portenho e não houve nenhuma punição, as torcidas de Santos e Penarol trocaram
pedradas no Centenário em Montevideo e também nada de atitude Conmebol. O
próprio Corinthians deveria ser punido pela confusão no jogo contra o River
Plate no Pacaembu. Enfim, exemplos de omissão da nossa Confederação Sul americana
são tantos que não me faz crer que desta vez a coisa seja mais séria.
De repente, não mais que de
repente, a Conmebol resolveu virar uma entidade séria, rápida no gatilho e
cumpridora da lei. Eu, sinceramente, espero que não seja fogo de palha e
quando, inevitavelmente, acontecerem e episódios na Argentina e no Uruguai, a
posição seja a mesma, porque lei existe para ser cumprida e o crescimento do
futebol na nossa região depende muito de uma grande dose de seriedade. É
esperar para ver se na hora do processo, quando o trabalho é grande e demorado
esse estalo de consciência se manterá.