A grade não aguentou a avalanche da Geral |
A tragédia em Santa Maria(RS) é, de fato, uma verdadeira tradução do gênero dramático a qual dá significado, pois o mesmo, normalmente, termina em morte do protagonista ou de entes queridos, este último sendo a cena vista repetida e incansavelmente desde o último sábado de madrugada.
Esta catástrofe foi causada pela
irresponsabilidade não só do dono da casa noturna, que não tinha saída de
emergência adequada, possuía extintores falsificados e seguranças sem
comunicação, mas também do músico, que acendeu um sinalizador sem antes se
informar e se preparar sobre o uso fogo em locais fechados, da Prefeitura, que
não exerceu seu poder polícia e sua superioridade administrativa para
fiscalizar, advertir, ou até mesmo fechar o local , e das autoridades de
segurança como o Corpo de Bombeiros, cuja ineficiência permitiu um local
funcionar mesmo com a licença vencida.
O fato abriu os olhos de autoridades, pelo menos
por enquanto, para a questão da segurança em locais de aglomeração de público.
Todavia, isso tende a ser esquecido muito rapidamente. O que aconteceu com as
autoridades baianas que permitiam a antiga Fonte Nova, cuja arquibancada cedeu
e matou nove pessoas, funcionar sem uma fiscalização adequada? Eurico
Miranda ou a CBF foram criminalmente penalizados pelos incidentes em São
Januário na final da Copa João Havelange? A resposta é um sonoro e desestimulante
NÃO!
Assim como a boate gaúcha, muitos dos nossos
estádios de futebol e ginásios esportivos não tem condições de segurança
adequadas para os dias de hoje. Talvez não a tenham desde sua construção, mas
com o "jeitinho brasileiro" conseguem manter seus alvarás em dia.
Me recordo claramente quando, em 1994, eu fui
acompanhar o Sport em um clássico contra o Santa Cruz no Arruda. Jogo truncado,
decisão de turno; um clássico como sempre deveria ser; emocionante. No
intervalo, surgiu um boato de que a arquibancada superior ia desabar. Foi o
estopim para momentos de desespero. Sem saídas de emergência para um estádio
grande e escadas estreitas, a solução da maioria para se salvar foi de pular o
poço e ir para o gramado.
Por alguma obra divina não houve grandes brigas
entre os torcedores no campo, mas até hoje a estrutura não teve modificações
significativas e a saída continua complicada. O Santa Cruz é o time que tem a
maior média de público do Brasil e eu não quero, nem de longe, imaginar alguma
tragédia por lá. O José do Rego Maciel, que tem capacidade para 60 mil pessoas,
já recebeu em um jogo Santa Cruz x Náutico 99 mil pagantes. Onde estão as
autoridades nessa hora?
Quando os torcedores (se é que podemos chamá-los
disso) do Grêmio atearam fogo em banheiros químicos no Beira-Rio, quanto tempo
demorou até que a situação fosse controlada? Falando em Grêmio, a avalanche no
jogo contra a LDU poderia ter acabado em tragédia e quem vistoriou e liberou a
Geral a fazer aquela comemoração sem ter condições/estrutura? Ainda bem que não
houve maiores danos aos que se machucaram ontem na Arena do Imortal tricolor,
mas não haverá uma responsabilização de quem liberou?
Infelizmente, no Brasil, temos a cultura de nos
preocuparmos (isso é uma generalização, não vale para 100% das pessoas) com as
coisas depois que algo acontece. É o caso da boate, como já foi o com o jet
ski, com adolescentes dirigindo sem carteira nas praias, entre muitos outros. A
mudança da nossa sociedade não depende das autoridades ou da população
diretamente, mas de cada um, nas suas atitudes diárias. A nossa demagogia é
forte e voltaremos a discutir isso na próxima tragédia, espero eu que com menos
vítimas. Que Maria, a santa mãe de Deus, tenha misericórdia por todos os que
partiram.
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