quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Santo Porquinho

Ao lado de Rogério Ceni, o goleiro Marcos fez parte de uma exceção de sua época: nunca saiu do Palmeiras, ainda que tenha balançado com uma oferta do Liverpool, para jogar na Europa em um tempo que jogador que era bem-sucedido atuava no velho continente e não em campos canarinhos. Perseguido por algumas graves lesões não conseguiu, como o companheiro de profissão do rival São Paulo, defender por mais vezes as traves palestrinas, mas suas façanhas com a camisa 12, por mais titular que tenha sido, quase que apagam da memória os momentos ruins vividos pelo arqueiro.

Na época em Marcos apareceu no Palmeiras, em 1992, o Porco paulista tinha defendendo o seu gol o ídolo Velloso e seu reserva imediato era o folclórico “Gato” Fernandez. Mas, sete anos depois, em 1999, comandado por Felipão, durante a disputa da Taça Libertadores da América Velloso sofre uma contusão e Marcos, que já tinha sido alçado à condição de reserva imediato assume o posto de muralha alviverde para não a perder pelos próximos 13 anos. Durante a competição sul-americana vencida pelo alviverde o arqueiro foi decisivo contra o arqui-rival Corinthians não só fazendo defesas fundamentais como defendendo o pênalti cobrado por Vampeta. Pela sua atuação o goleiro foi canonizado no Palestra Itália e ganhou a alcunha de São Marcos.

A santidade palmeirense ainda foi com a equipe paulista a uma final de Mundial de clubes e mais uma da Libertadores, mas terminou ambas como vice. Não obstante, 2002 foi o ano em que o goleiro foi do céu ao inferno. Primeiro foi abençoado pelos anjos da bola e foi um dos destaques da Seleção campeã na Copa da Coréia/Japão, mas teve um segundo semestre desastroso como se uma maldição tivesse sido jogada sobre ele e o arqueiro participou da campanha que rebaixou o Palmeiras à segunda divisão do campeonato brasileiro. Ainda assim, ele ficou na equipe e a ajudou a voltar à elite do futebol nacional no ano seguinte sagrando-se campeão da segundona.


Líder nato, Marcão desde que se tornou titular no Palmeiras puxou para si a responsabilidade nos momentos de turbulência, algo comum na agremiação alviverde. Já foi xingado, teve carro depredado e ficou contra a torcida quando ela passava do limite, mas isso ao invés de macular sua condição de ídolo, a fortaleceu. Explosivo nos jogos suas declarações pós jogo já renderam boas manchetes para os jornais paulistas. Uma das últimas foi depois de uma derrota de 6x0 para o Coritiba na Copa do Brasil 2011; ao final do embate, o goleiro soltou o verbo e disse que poderia ter ficado sem passar essa vergonha e que se os companheiros o tivessem avisado que jogariam de forma tão patética era melhor que ele não atuasse, pois voltava de contusão e recebeu, de cara, 6 presentes de grego.

Dono de uma personalidade forte que costuma levá-lo a fazer declarações polêmicas sem meias palavras. Mas, esse traço contradiz com uma pessoa bem quista, e de fácil trato, tanto pelos companheiros de trabalho como também pela imprensa. O seu sorriso característico foi desaparecendo mais ao longo que as dores do seu corpo o foram consumindo e fizeram com que Marcos encerrasse sua carreira brilhante e vitoriosa. Em tempos de discursos prontos e atletas moldados pelos assessores de imprensa, ver uma figura autêntica, um “boa praça” como o Marcos se despedir do futebol é uma pena, pois apesar de ser um profissional dedicado ele soube levar sua carreira “na esportiva”.

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Confusão à gaúcha


Durante toda a semana passada a torcida do Grêmio planejou meticulosamente para “homenagear” o mais notório filho nascido das entranhas do Estádio Olímpico: Ronaldinho Gaúcho.  O craque, atualmente jogador do Flamengo, desligou-se em 2001 do tricolor dos pampas de forma pouco amigável e quando anunciou sua volta ao Brasil, depois de 10 temporadas no futebol europeu, causou um frisson na torcida gremista que ficou esperançosa na sua volta e esqueceu todas as mágoas do passado.

Depois de um longo leilão promovido por Assis, irmão e empresário de Ronaldinho – não necessariamente nesta ordem –, o R10 assinou um contrato de 5 anos com o rubro negro carioca por um salário milionário digno de craque de ponta nos maiores clubes europeus.  Este fato despertou uma fúria sem precedentes da metade azul de Porto Alegre e o ídolo cuja imagem ficara turva no passado, desta vez enegreceu de vez e a relação do jogador e torcida parece não ter mais jeito. Havia toda uma expectativa pela volta do Gaúcho externada principalmente pelo presidente do tricolor. 



Eu sinceramente não me lembro do Ronaldinho ter dito em alto e bom som que queria jogar no Grêmio de novo. Recordo que à época houve um boato no qual o jogador teria dito a um amigo que por ele jogaria no clube que o revelou, mas não o vi em público fazer tal declaração. Todo o processo conduzido por Assis foi muito astuto, poucas informações concretas foram passadas e todo dia aparecia uma notícia do Ronaldinho em uma equipe diferente. Um dia era o Palmeiras, no outro o Flamengo, depois o Grêmio e até o presidente do Corinthians veio dizer que as portas do Parque São Jorge estavam abertas para o craque, mas que os mosqueteiros paulistanos não iriam entrar em leilão.

Depois de alguns dias de novela, Ronaldinho assinou seu contrato com o Flamengo. Nada de errado no processo, até porque ele não tinha obrigação nem moral, nem profissional com o Grêmio. Ele é um atleta profissional que vai de acordo com a maré e se a proposta do Urubu da Gávea foi melhor, que vá jogar lá. Essa choradeira da torcida gaúcha é muito culpa da diretoria que ficava afirmando ter um acerto muito próximo e de já estar preparando o contrato. Exemplos de jogadores ídolos que vão jogar no exterior e não voltam ao clube que os consagrou acontece em todas as janelas de transferência e nem por isso a ficam chamando os atletas de pilantras.

Fernandão foi o capitão do Internacional na conquista do mundial de clubes, logo depois foi para o famigerado mundo árabe e quando retornou ao País foi jogar no Goiás e não no Inter que não o quis. Isso foi uma decisão profissional e hoje Fernandão faz parte da comissão técnica do Inter. Não é todo dia que aparece um jogador como o Juninho Pernambucano, que topou jogar por um salário mínimo até provar que tinha condições de defender a altura o clube que o projetou mundialmente. Aliás, desconheço outro caso semelhante a esse do camisa 8 do Vasco da Gama.

Dentro do estádio a torcida pode vaiar, xingar e tentar “fazer tremer” o seu adversário, mas por ser adversário, não por ter partido o coração mole do torcedor. Eu sempre digo que jogador que não tem gana de entrar em campo e se matar no gramado pelo meu time pode pegar a porta da rua, que não faz falta nenhuma. Jogador bom é aquele que faz o que gosta e o realiza com vontade, garra e determinação e não puramente por uma suposta questão de querer enterrar um passado mal resolvido.