quinta-feira, 6 de outubro de 2011

A Culpa é de quem?

Jogador de futebol é um ser curioso. Apesar de jogar um esporte coletivo onde depende de, pelo menos, os outros 10 atletas que estão em seu time, além dos 11 da equipe adversária ele é um ser extremamente egoísta. Aquela história de coletividade onde “todo mundo ganha” e “todo mundo perde” é uma bela de uma balela para inglês ver. A verdade é que assistindo futebol há uns 20 anos eu não me lembro de jogador dizendo que a culpa é dele por uma derrota ou ele esteve em atuação ruim. O máximo que já vi foi um ou outro admitir que “a fase não é a melhor”, mas isso está longe de retratar, muitas vezes, a realidade.



O principal culpado pelas derrotas, ou ao menos o mais apontado pelos atletas, é o árbitro. Eu concordo que o quadro da arbitragem brasileira é péssimo, mas não uma exclusividade tupiniquim desenvolvida pelas organizações Tabajara, por mais que pareça isso em várias ocasiões. A Premier League inglesa, considerada por muitos especialistas como o principal campeonato do mundo tem sérios problemas com a turma do apito e inclusive o quarteto de gigantes da terra da rainha chiou com muitas atuações tétricas dos árbitros. Eu até concordo que o juiz pode, em alguns casos, definir o rumo de uma partida, mas isso é em um jogo ou outro não é sempre, a não ser que se torça pro Botafogo, contra quem acontece de tudo um pouco.

A próxima vítima é a bola. Não consigo me divertir com aquele discurso velho e batido de que “a bola não quis entrar”, ou então que “poderíamos ficar até amanhã e ela não entraria”. Entendo quando um piloto diz que o carro estava com um problema e fez uma corrida ruim, mas culpar a bola é demais. Esse ser redondo e inanimado responde a duas leis: a da física e a da gravidade, não há vontade, mas para não se chamar de incompetente, o atleta bota a culpa em naquilo que menos tem culpa, a bola. Aliás, ela deveria ser muito bem tratada e não servir de bode expiatório para qualquer caneludo desse mundo da bola. Eu duvido o Messi, o Pelé, o Puskas botarem a culpa nela. Tem outra vítima dos boleiros que é a trave. Como é que um poste branco, aliás, um conjunto de postes brancos, imóveis, pode ter culpa de alguma coisa? Se o cidadão que chuta a bola não consegue acertar um alvo de 2,44m de altura por 7,32 m de comprimento não tem o direito de colocar a culpa em mais ninguém, ou em mais nada. Às vezes eu acho que o jogador imagina existir um conchavo entre a bola e a trave para que a rede permaneça “virgem” durante os 90 minutos.

Mas não há nada melhor do que criticar o gramado, que o digam os atletas da seleção que perderam quatro pênaltis na Copa América. Tudo bem que campo ruim atrapalha, mas quer dizer que Pelé, Eusébio, Garrinha foram quem foram enquanto atletas só jogando em tapete? Pelo contrário, jogavam em pastos muitas vezes inimagináveis nos dias de hoje. Como se diz no Nordeste, o “cabra tem que ser macho” e admitir que errou porque foi displicente, não se concentrou, tava com excesso de confiança, foi incompetente, mas dizer que o gramado é culpado é danado. Será que durante 90 minutos de jogo não sejam suficientes para que um atleta profissional, que vive trabalhando em todo o tipo de gramado, não consiga entender como funciona o mecanismo quando tem muita areia, quando o gramado está molhando ou quando existem buracos, até porque normalmente jogasse mais de uma vez no mesmo campo. O Brasil, por exemplo, tinha jogado uma semana antes no mesmo estádio e as condições estavam piores, será que a culpa é só do gramado mesmo?

O jogador de futebol tem é que descer do pedestal e ver que ele é normal igualzinho a todo mundo, só possui uma habilidade que o distingue dos demais. Esse pessoal tem que ser mais humilde e aprender que errar é humano e faz parte do aprendizado e ajuda no crescimento pessoal e profissional. Jogador vive falando que é homem e tal, bate no peito cheio de orgulho, então tá na hora de assumir os erros e mostrar que é homem de verdade. Na hora de jogar para a torcida e dar um carrinho no meio de campo, que muitas vezes não vale nada, é fácil ser aplaudido, mas quando chega o momento de assumir que fez o que a torcida não quer ver, para manter a imagem do ídolo, o “cabra” some. E a culpa vai ser de quem?



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