segunda-feira, 17 de outubro de 2011

A incrível capacidade de estragar tudo

O planeta Terra já possui mais de 7 bilhões de homo sapiens habitando o seu território e dentro dessa enorme massa de seres pensantes há uma parcela ínfima a quem foi dado, para os que acreditam em uma força superior, algum tipo de dom físico que os faz ser muito diferenciados de todo o resto da população: são os atletas de alto rendimento. Milhares sonham, mas não são todos os dias que surgem seres como Maradona, Agassi e Tyson. Eles têm o que o senso comum chama de um “quê a mais”. Todavia, tem chamado muito a atenção, a enorme quantidade de atletas que vem desperdiçando a chance que lhes foi dada, principalmente em se tratando de atletas do futebol.

A primeira Copa do Mundo que acompanhei de verdade entendendo o que se passava foi a de 90. Não foi exatamente uma coisa promissora para um jovem torcedor de a Seleção Brasileira assistir a equipe de seu País ser eliminada pela Argentina, sua maior rival, tendo Maradona dado um nó em nosso esquadrão. Terminei acompanhando o resto do mundial torcendo pela Argentina, pois fiquei logo muito fã do Dieguito e do Goycochea. Muito me espantou depois saber que o craque argentino era viciado em cocaína e tinha sido suspenso do futebol por causa disso. No entanto, sua volta na Copa de 94 parecia que ia transformar aquele pesadelo de anos anteriores em história encerrada, mas, em se tratando de Maradona, aconteceu o que muitos temiam e outros tantos esperavam: o argentino foi pego no antidopping e foi, novamente, suspenso. O jogador perdeu muitos dos seus excelentes anos por um vício, que muitos atribuem a uma relação que os jogadores do Napoli, clube que Maradona atuou na Europa, mantinham, ou tinham que manter, com alguns membros da máfia napolitana que comandava o clube italiano. A verdade é que ele poderia ter sido muito maior do que foi e ter encerrado sua vida esportiva de uma forma um tanto mais digna para fazer jus a todas as maravilhas que el pibe presenteou aos amantes do bom futebol.

No Brasil, temos muitos casos de jogadores que se deixaram levar a um fim de carreira decadente e, muitas vezes, antecipado por vícios e desequilíbrios. Um dos casos mais emblemáticos foi o de Garrincha. O mago das canelas tortas “entortou” muitos zagueiros, todos carinhosamente chamados pelo nome de João, e foi, para muitos admiradores e comentaristas, o maior jogador brasileiro de todos os tempos, melhor, inclusive, que Pelé. Não obstante, o Mané, como fora apelidado, tinha uma fraqueza pelo álcool e viu toda glória e magia do seu futebol arte se transformar em uma aposentaria pobre devido ao vício que corroeu não só o seu fígado, que o levou a uma morte por cirrose, como também sua vida pessoal. Após ser diagnosticada artrose em seus joelhos, o “Anjo das pernas tortas” começou a ver seu futebol ruir, o que o levou tentativas de suicídio, acidentes de automóvel e dezenas de internações por alcoolismo. Recentemente, tem-se acompanhado a luta de outro ídolo brasileiro, Sócrates, contra os efeitos do abuso de álcool. A carreira do Dr. Sócrates não foi prejudicada, mas em compensação sua aposentadoria não vem sendo nada tranqüila. Casagrande e Dinei foram outros casos em que as drogas consumiram muito de suas vidas de atleta.

No entanto, um caso emblemático é o atacante Jóbson, que atualmente está suspenso por ter sido pego no antidopping pelo uso de cocaína. O jogador paraense foi revelado pelo Brasiliense em 2007, mas sempre foi associado a casos de indisciplina que envolveram suspeitas de embriaguez. Jóbson foi emprestado ao Botafogo em 2009 e ajudou o time da estrela solitária a fugir do rebaixamento e logo despertou o interesse do Cruzeiro para a temporada seguinte. Mas ao ser pego no exame antidopping, o atacante assumiu o uso de crack e foi suspenso pelo STJD. O Botafogo resolveu ajudá-lo durante todo o seu processo de recuperação, que teve a pena reduzida a seis meses e voltou a defender a equipe carioca no segundo semestre de 2010. Ainda assim, o jogador não parou de se envolver em polêmicas e teve encurtadas suas passagens por Atlético-MG e Bahia, onde realizava um bom campeonato brasileiro. É raro um jogador receber a quantidade de oportunidades com que Jóbson fora agraciado e não aproveitá-las foi sua opção. Doravante isso, o Grêmio Barueri, time de empresários do interior paulista, está interessado na contração do atacante quando ele terminar de cumprir sua suspensão.

Nos últimos 5 anos, o mundo esportivo vem acompanhando de perto uma trajetória marcada pela autodestruição do ser humano e do atleta, que é a Imperador Adriano. Desde os anos da glória  nos campos de Milão, quando defendia a Internazionale, para os dias de hoje, foram denúncias de abuso de álcool, depressão, associação com traficantes do Rio de Janeiro e inúmeros problemas com indisciplina. O jogador carioca começou sua carreira, sem um brilho fenomenal, no Flamengo, depois transferiu-se para a Itália onde jogou na Fiorentina antes de tornar-se o Imperador de Milão, atuando pela Internazionale. Todavia, quanto mais alto subia nos degraus do sucesso, mais afundava sua pessoal e sua instabilidade emocional o levou às farras com mulheres, cigarros e bebida. O fundo do poço foi quando, aos 26 anos, ele se desligou do clube italiano e se “aposentou”do futebol por não mais conseguir viver do mesmo. Depois de alguns meses, voltou a jogar pelo Flamengo e foi campeão brasileiro, mas o temperamento sempre foi um problema fora de campo e as bebedeiras até então não tinham acabado. Tentou voltar ao país da bota, mas foi um verdadeiro fiasco, não tendo terminado nem o primeiro ano de um contrato de 5 anos. Bancado por Ronaldo, o Corinthians topou o desafio de recuperar mais uma vez o Imperador depois que o Flamengo disse não a Adriano, talvez por não querer acreditar nele pela terceira vez e investir pesado em um atleta, que apesar de ainda ter 29 anos, está quase se tornado o que se chama de ex-jogador em atividade.

Acredito que a infância pobre, com pouca ou nenhuma educação vinda da escola, a simplicidade da vida desses atletas até se tornarem jogadores profissionais e virarem suas vidas de cabeça para baixo, da noite para o dia, influência e muito nesse tipo de desequilíbrio. Mas justificar atitudes como essas, somente com isso, é muito pouco. Existem outras razões mais profundas de ordem psicológica, principalmente, e, em alguns casos, de caráter mesmo. O fato é que se prepara muito o dentro de campo, mas não os preparam para o verdadeiro desafio que é o de enfrentar a pressão de torcida, dirigente, procurador, patrocinador, que não é fácil. Enquanto a preparação do atleta for muito dissociada da do ser humano, casos como esse aparecerão aos montes. Não é preciso chegar ao extremo como eles, mas não é possível esquecer do Tevez, que arrumou confusão no Corinthians, no West Ham e agora no Manchester City, do Anderson que vive se envolvendo em confusão e, no início do ano, destruiu seu carro em um acidente não muito bem explicado ainda. Enfim, a matéria-prima  do futebol precisa ser mais lapidada para ser posta em exposição, não pode ir de qualquer jeito porque, se deixarem pela conta e risco dos jogadores, eles vão mostrar sua incrível capacidade de estragar tudo.

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