À época em que eu estava no segundo grau do
ensino médio, cujo nome hoje já deve ser bastante diferente, me lembro bem das
aulas de química, tendo em vista que eu almejava o vestibular de medicina. O
tempo passou, mas as aulas do professor Iran nunca foram esquecidas e lendo
sobre futebol e política me veio à mente que são como os líquidos imiscíveis
das minhas aulas de químicas: podem até ficar no mesmo recipiente, mas não vão
se misturar.
Não que o futebol esteja alheio às práticas
políticas, mas a política antiga feita na base da pura troca de interesses
pessoais talvez tivesse espaço na época em que os clubes tinham seus coronéis
que tratavam as agremiações como o quintal da sua casa; deixavam os cachorros
acabarem com quintal e depois largavam de mão. Não havia responsabilidade de
gestão e muitas vezes os presidentes dos clubes também ocupavam cargos
políticos de deputados e senadores.
A administração do futebol, por ser uma atividade
pública, mesmo que os clubes sejam privados, está ligada ao conceito de
política, mas àquela feita com base nas relações de administração da polis.
Os "cidadãos/torcedores", atualmente, exigem respeito e atuação digna
de quem estiver exercendo a chefia executiva do seu esquadrão.
Da mesma forma que a Administração Pública
evoluiu do Patrimonialismo, passou pela escola Burocrática e atualmente, mesmo
sem abandonar por completo as anteriores, entrou na fase Gerencial de maior
responsabilidade do e para o administrador, o futebol passou do coronelismo
para os gestores profissionais em um piscar de olhos, mas ainda de forma muito
desordenada.
Ao mesmo tempo em que o Corinthians evoluiu sua
administração da tirania Chavista de Alberto Dualib e passou por remodelação
completa na era Andrès Sanchez, que colocou o time do bando de loucos na rota
de se tornar, em poucos anos, o maior clube do Brasil em todos os aspectos, o
Flamengo retroage à época colonial e o clube de maior torcida do Brasil é
tratado como um feudo medieval em pleno século XXI.
A CBF padece do mesmo mal que o rubro negro
carioca. Depois de ignorar por mais de 20 anos a democracia com sucessivas
reeleições de Ricardo Teixeira sob condições muitas vezes obscuras e após
escapar do voo da muamba e de uma CPI, o cacique não resistiu à uma chuva de
denuncias envolvendo seu nome no comitê gestor da Copa 2014 e saiu do comando
da entidade no papel, porém deixou José Maria Marin, seu vice, para comandar os
nebulosos esquemas da Confederação.
O tipo de política praticado por Teixeira, Marin,
Marco Polo Del Nero, Eurico Miranda e muitos outros não se mistura com o
futebol; pode até ficar no mesmo recipiente, todavia cada qual no seu lado e
tendo em vista que o poder da política em grande parte das vezes prevalece, o
futebol é quem sai perdendo e paga o pato. O resultado é um calendário diverso
do que é feito no resto do mundo, clubes com dívidas estratosféricas, estádios
velhos (teremos 12 arenas, mas e o resto?), gramados em estado deplorável,
torcedores tratados feito bicho, jogos de qualidade técnica baixa, dentre
muitos outros.
O futebol brasileiro precisa olhar para o que
está sendo bem feito mundo afora. Não é nem um pouco admissível que o campeão
da Libertadores tenha uma premiação menor de um time que não passou
sequer da fase grupos da Champions League. Estamos fazendo o tipo errado de
política; os arranjos tem que fortalecer o esporte e não explorá-lo puramente
como uma interminável minha de ouro.
Nenhum comentário:
Postar um comentário