quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Líquidos Imiscíveis



À época em que eu estava no segundo grau do ensino médio, cujo nome hoje já deve ser bastante diferente, me lembro bem das aulas de química, tendo em vista que eu almejava o vestibular de medicina. O tempo passou, mas as aulas do professor Iran nunca foram esquecidas e lendo sobre futebol e política me veio à mente que são como os líquidos imiscíveis das minhas aulas de químicas: podem até ficar no mesmo recipiente, mas não vão se misturar.

Não que o futebol esteja alheio às práticas políticas, mas a política antiga feita na base da pura troca de interesses pessoais talvez tivesse espaço na época em que os clubes tinham seus coronéis que tratavam as agremiações como o quintal da sua casa; deixavam os cachorros acabarem com quintal e depois largavam de mão. Não havia responsabilidade de gestão e muitas vezes os presidentes dos clubes também ocupavam cargos políticos de deputados e senadores. 

A administração do futebol, por ser uma atividade pública, mesmo que os clubes sejam privados, está  ligada ao conceito de política, mas àquela feita com base nas relações de administração da polis. Os "cidadãos/torcedores", atualmente, exigem respeito e atuação digna de quem estiver exercendo a chefia executiva do seu esquadrão. 

Da mesma forma que a Administração Pública evoluiu do Patrimonialismo, passou pela escola Burocrática e atualmente, mesmo sem abandonar por completo as anteriores, entrou na fase Gerencial de maior responsabilidade do e para o administrador, o futebol passou do coronelismo para os gestores profissionais em um piscar de olhos, mas ainda de forma muito desordenada.

Ao mesmo tempo em que o Corinthians evoluiu sua administração da tirania Chavista de Alberto Dualib e passou por remodelação completa na era Andrès Sanchez, que colocou o time do bando de loucos na rota de se tornar, em poucos anos, o maior clube do Brasil em todos os aspectos, o Flamengo retroage à época colonial e o clube de maior torcida do Brasil é tratado como um feudo medieval em pleno século XXI.

 A CBF padece do mesmo mal que o rubro negro carioca. Depois de ignorar por mais de 20 anos a democracia com sucessivas reeleições de Ricardo Teixeira sob condições muitas vezes obscuras e após escapar do voo da muamba e de uma CPI, o cacique não resistiu à uma chuva de denuncias envolvendo seu nome no comitê gestor da Copa 2014 e saiu do comando da entidade no papel, porém deixou José Maria Marin, seu vice, para comandar os nebulosos esquemas da Confederação.

O tipo de política praticado por Teixeira, Marin, Marco Polo Del Nero, Eurico Miranda e muitos outros não se mistura com o futebol; pode até ficar no mesmo recipiente, todavia cada qual no seu lado e tendo em vista que o poder da política em grande parte das vezes prevalece, o futebol é quem sai perdendo e paga o pato. O resultado é um calendário diverso do que é feito no resto do mundo, clubes com dívidas estratosféricas, estádios velhos (teremos 12 arenas, mas e o resto?), gramados em estado deplorável, torcedores tratados feito bicho, jogos de qualidade técnica baixa, dentre muitos outros.

O futebol brasileiro precisa olhar para o que está sendo bem feito mundo afora. Não é nem um pouco admissível que o campeão da Libertadores tenha uma premiação menor de um time  que não passou sequer da fase grupos da Champions League. Estamos fazendo o tipo errado de política; os arranjos tem que fortalecer o esporte e não explorá-lo puramente como uma interminável minha de ouro.

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