segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

O suprassumo da incompetência



Dizem os provérbios populares que quanto maior a altura, maior a queda e isso se aplica a muitos clubes do mundo. O Brasil, claro, não está fora desta lista e o Flamengo é o maior exemplo que a incompetência não tem limites. Os índices de crescimento do bom gestor são previsíveis (dentro de uma margem obviamente), mas quando o negócio é tocado de qualquer jeito ou como a extensão da casa do administrador as catástrofes são sem tamanho e de consequências imprevisíveis.

O time carioca recebe centenas de milhões de reais por ano, mas vive eternamente com uma corda no pescoço, muito devido à bagunça administrativa que reina nos últimos 30 anos na Gávea. É inconcebível uma agremiação ser tão bagunçada a ponto de conseguir a proeza de perder Ronaldo Fenômeno, que treinou um bom tempo no clube, Ronaldinho Gaúcho, que conseguiu na primeira instância da Justiça carioca o reconhecimento de uma dívida milionária do clube com ele e ainda por cima contratar Adriano, mesmo depois da demonstração de falta de respeito do Imperador com o Corinthians.

O Flamengo se propôs a gastar 15 milhões de reais para repatriar Vágner Love ao mesmo tempo que devia meses de salários atrasados aos atletas que estavam integrados no grupo. Como pode não ter dinheiro para uns, mas sim para um outro, que ainda por cima viria com vencimentos milionários? Eu não consigo entender; o Flamengo deve ter alguma áurea mística que atraia jogadores para lá, porque pelo simples objetivismo e pela credibilidade financeira, jogadores da Série C estariam recusando de todo o jeito propostas do Urubu carioca.

Como é que pode um time receber tanto dinheiro e ter dívidas milionárias com a Receita Federal, com a Previdência, sem contar as trabalhistas? Romário e Vanderlei Luxemburgo receberam (ou ainda recebem) verdadeiros salários mensais relativos a dívidas quanto a salários atrasados. Eu posso até entender que um clube cujo investimento é milionário possa ter dívidas grandes, mas que elas não sejam uma bola de neve incontrolável e tomem boa parte do dinheiro que serviria para os projetos atuais.
 
A desorganização é tanta que o Flamengo não tem um centro de treinamento de referência, tampouco conseguiu viabilizar a construção de um estádio próprio, não tem uma equipe de preparação do nível de um clube que o Flamengo se supõe ser e recorrentemente vê jogadores se mostrarem mais poderosos que dirigentes.

Zico e Zinho, dois ídolos do clube, foram publicamente massacrados por não conseguirem domar as feras na jaula do Urubu. Faltou apoio do Executivo, o respaldo necessário foi jogado na lama em troca de boa imagem pública dos dirigentes; aliás, torcedor em cargo de direção. É aquele famoso caso de "jogando para a torcida", o dirigente protege o craque, que é querido pela torcida e queima a fita do gerente, que quer colocá-lo nos trilhos.

 Vanderlei Luxemburgo, que é um treinadores mais vitoriosos do Brasil, foi colocado pra fora do rubro negro por desentendimentos com Romário e Ronaldinho Gaúcho. Os dois jogadores, aliás, colocaram o Flamengo na justiça por não pagamento de salários. Ou seja, os dirigentes pouco se preocuparam em como administrar esses craques em vários sentidos; só os colocavam na vitrine para serem admirados pelos torcedores, que tinham a impressão (vista de fora) que o trabalho era ótimo.

A bagunça generalizada que reina na Gávea sempre tem um "salvador da pátria da nova gestão", mas o "Estado" coronelista, com verdadeiros feudos impede um gestão mais profissional e meritocrática. Sempre que um presidente não vai bem aparece um opositor cujo "choque de gestão" vai recolocar o Flamengo no seu devido lugar, todavia o discurso (e talvez a vontade do dirigente) não consegue transpassar as barreiras de antigos caciques que ainda acreditam comandar uma aldeia.

Toda essa confusão, no final das contas, pode até ser prejudicial ao clube, mas é muito benéfica ao futebol brasileiro. Se o Urubu fosse organizado, tivesse um planejamento correto seria de longe o clube mais rico do país, com recursos milionários que possibilitariam investimentos megalomaníacos, como os do Corinthians, que está em um caminho que poderia ser facilmente o do Flamengo. Não seria possível competir com o rubro negro carioca e o futebol brasileiro sofreria com um domínio nunca antes visto na história desse país.

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