terça-feira, 13 de março de 2012

O fim do absolutista


Nem Poseidon, o rei dos mares, conseguiu ficar inerte ao maremoto que atingiu os mares futebolísticos no Brasil. A semana começou com uma bomba que monopolizou os noticiários: a  foi a renuncia covarde de Ricardo Teixeira da presidência da entidade, depois de 23 anos ininterruptos no poder. O desligamento do dirigente, que está em Miami, foi oficializado por José Maria Marin, seu sucessor, foi por meio de uma carta.

A Confederação Brasileira de Futebol era presidida por um administrador feroz, mas que dentro de sua torpeza moral transformou a entidade máxima do esporte bretão de uma empresa deficitária para um fenômeno de faturamento, cujas receitas beiram os R$ 200 milhões por ano.

A sua administração trouxe 119 títulos nas mais diversas categorias de futebol, isso é preciso se ressaltar; foram ganhas as Copas de 94 e 2002 e o Brasil deixou de ser aquele time encantador sem ser, na verdade, vencedor. O caminho para esse crescimento vertiginoso da Seleção foi nebuloso e uma investigação para “explicar” o contrato com a Nike foi aberta, mas em pizza terminou.

Durante a sua gestão foi criada a Copa do Brasil, um torneio mata-mata que integra clubes de todas as divisões, o calendário foi ajustado; ainda pode não ser o ideal, todavia os torcedores já sabem como vai ser o ano do seu clube, quando começa e termina o estadual, o brasileirão vem ganhando força e vai se transformando aos poucos em um campeonato estabilizado e forte.

Muito se pode questionar sobre as negociatas do senhor Teixeira, que se valeu de sua posição e prestigio para beneficiar diretamente, e sem muito escrúpulo, suas empresas particulares. Empregou ainda diversos familiares na CBF mostrando-se despreocupado com as implicações éticas e morais que tal conduta trazia; o nepotismo o ajudou a se eleger presidente da Confederação, em primeiro lugar.

Ele foi um ditador absolutista e se comandasse um Estado é provável que tivesse tomado para si a célebre frase de Luis XIV: “O Estado sou eu”. Ele tinha certeza disso e só começou a perder o rumo do navio quando se achou mais do que realmente era. Primeiro, bateu de frente com Joseph Blatter, presidente da FIFA, o órgão supremo do futebol ao apoiar o adversário político do Suíço na última eleição da entidade, tendo em vista ser o presidente em 2015.

Achando pouco e se acreditando ser intocável desferiu palavras e depoimentos nos quais se dizia intocável; talvez tivesse a certeza, mas lhe faltou a inteligência lembrar que a nova presidente do Brasil, Dilma Rouseff, vem combatendo de frente a politicagem corrupta e simplesmente parou as negociações sobre o andamento das obras da Copa enquanto Ricardo Teixeira permanecesse no seu cargo.

O cartola, cuja navegação fora sempre tranqüila, agora se via à deriva isolado pelas únicas autoridades as quais ele deveria se curvar: o “dono” da Copa do Mundo e a Presidente do País sede do maior evento do futebol mundial. Da mesma forma que a desgraça dos Beatles foi achar que o quarteto era mais famoso que Jesus, Ricardo Teixeira acreditava estar acima do bem e do mal e nada ou, principalmente, ninguém o tiraria do posto de capitão do navio.

Alvo de duas CPIs e de outras tantas investigações, o isolamento do dirigente aumentou a sede da imprensa, principalmente a inglesa e a brasileira, a esmiuçar todas as negociatas de Teixeira e denúncias apareciam aos montes. Não que sejam todas ilegais; pelo contrário, as investigações postas em curso inocentaram o mandatário em todas as acusações, mas suas “relações comerciais” se não feriam a legalidade, com certeza careciam de uma adequada dose de moralidade e ética.

Não se deve agora, que ele está no chão, chutar, cuspir e esbravejar como se ele fosse alguma espécie de demônio a ser exorcizado. Muitos políticos e cidadãos brasileiros fazem o mesmo, ou pior, todos os dias. Ricardo Teixeira precisa ser responsabilizado pelos seus atos; responder na justiça ao ser denunciado e arcar com as penalidades estabelecidas conforme os ditames de uma sociedade e uma justiça imparcial. Resta saber se o afastamento vai ser real ou apenas mais uma manobra de um engenhoso político brasileiro.

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