Nem Poseidon, o rei dos mares,
conseguiu ficar inerte ao maremoto que atingiu os mares futebolísticos no
Brasil. A semana começou com uma bomba que monopolizou os noticiários: a foi a renuncia covarde de Ricardo Teixeira da
presidência da entidade, depois de 23 anos ininterruptos no poder. O desligamento
do dirigente, que está em Miami, foi oficializado por José Maria Marin, seu
sucessor, foi por meio de uma carta.
A Confederação Brasileira de
Futebol era presidida por um administrador feroz, mas que dentro de sua torpeza
moral transformou a entidade máxima do esporte bretão de uma empresa
deficitária para um fenômeno de faturamento, cujas receitas beiram os R$ 200
milhões por ano.
A sua administração trouxe 119
títulos nas mais diversas categorias de futebol, isso é preciso se ressaltar;
foram ganhas as Copas de 94 e 2002 e o Brasil deixou de ser aquele time
encantador sem ser, na verdade, vencedor. O caminho para esse crescimento
vertiginoso da Seleção foi nebuloso e uma investigação para “explicar” o
contrato com a Nike foi aberta, mas em pizza terminou.
Durante a sua gestão foi criada a
Copa do Brasil, um torneio mata-mata que integra clubes de todas as divisões, o
calendário foi ajustado; ainda pode não ser o ideal, todavia os torcedores já
sabem como vai ser o ano do seu clube, quando começa e termina o estadual, o brasileirão
vem ganhando força e vai se transformando aos poucos em um campeonato
estabilizado e forte.
Muito se pode questionar sobre as
negociatas do senhor Teixeira, que se valeu de sua posição e prestigio para
beneficiar diretamente, e sem muito escrúpulo, suas empresas particulares. Empregou
ainda diversos familiares na CBF mostrando-se despreocupado com as implicações
éticas e morais que tal conduta trazia; o nepotismo o ajudou a se eleger
presidente da Confederação, em primeiro lugar.
Ele foi um ditador absolutista e
se comandasse um Estado é provável que tivesse tomado para si a célebre frase
de Luis XIV: “O Estado sou eu”. Ele tinha certeza disso e só começou a perder o
rumo do navio quando se achou mais do que realmente era. Primeiro, bateu de
frente com Joseph Blatter, presidente da FIFA, o órgão supremo do futebol ao
apoiar o adversário político do Suíço na última eleição da entidade, tendo em
vista ser o presidente em 2015.
Achando pouco e se acreditando ser
intocável desferiu palavras e depoimentos nos quais se dizia intocável; talvez
tivesse a certeza, mas lhe faltou a inteligência lembrar que a nova presidente
do Brasil, Dilma Rouseff, vem combatendo de frente a politicagem corrupta e
simplesmente parou as negociações sobre o andamento das obras da Copa enquanto
Ricardo Teixeira permanecesse no seu cargo.
O cartola, cuja navegação fora
sempre tranqüila, agora se via à deriva isolado pelas únicas autoridades as
quais ele deveria se curvar: o “dono” da Copa do Mundo e a Presidente do País sede
do maior evento do futebol mundial. Da mesma forma que a desgraça dos Beatles
foi achar que o quarteto era mais famoso que Jesus, Ricardo Teixeira acreditava
estar acima do bem e do mal e nada ou, principalmente, ninguém o tiraria do
posto de capitão do navio.
Alvo de duas CPIs e de outras
tantas investigações, o isolamento do dirigente aumentou a sede da imprensa,
principalmente a inglesa e a brasileira, a esmiuçar todas as negociatas de
Teixeira e denúncias apareciam aos montes. Não que sejam todas ilegais; pelo
contrário, as investigações postas em curso inocentaram o mandatário em todas
as acusações, mas suas “relações comerciais” se não feriam a legalidade, com
certeza careciam de uma adequada dose de moralidade e ética.
Não se deve agora, que ele está
no chão, chutar, cuspir e esbravejar como se ele fosse alguma espécie de demônio
a ser exorcizado. Muitos políticos e cidadãos brasileiros fazem o mesmo, ou
pior, todos os dias. Ricardo Teixeira precisa ser responsabilizado pelos seus
atos; responder na justiça ao ser denunciado e arcar com as penalidades
estabelecidas conforme os ditames de uma sociedade e uma justiça imparcial. Resta
saber se o afastamento vai ser real ou apenas mais uma manobra de um engenhoso
político brasileiro.
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