sexta-feira, 15 de junho de 2012

Tempo perdido


Na semana em que Wagner Moura sofreu uma avalanche de críticas da esquizofrênica imprensa “especializada e intelectual” musical brasileira, o meia Ronaldinho Gaúcho e o Flamengo encerraram um curto relacionamento que não chegou a durar dois anos.

 A primeira conclusão lógica que se pode tirar da situação, e da enorme dívida que ficou para o clube carioca, é que o time com a maior torcida do Brasil perdeu um precioso tempo; não apenas investindo em um boleiro sem compromisso, como também de andar no caminho do futebol moderno, onde o empreendedorismo e as táticas de grandes corporações multiplicam aos milhões a receita das agremiações.

A demagogia quase coronelista presente na Gávea mostra o tamanho do amadorismo com o qual um negócio tão lucrativo é tratado de maneira quase irresponsável por torcedores, quando o que se deveria era existir um quadro de profissionais para tratar dos negócios de um dos mais tradicionais clubes do Brasil.

A República Popular do Corinthians, que chegou a flertar com o “socialismo boleiro” durante a democracia corinthiana, deixou de ser um reduto de torcedores oportunistas, cujo objetivo era encher o próprio bolso e, se possível, conquistar algum título.

O time do Parque São Jorge se modernizou e, mostrando um belo exemplo de planejamento e organização, transformou o decadente e barrigudo, mas muito carismático, Ronaldo Fenômeno em um sucesso absoluto em vendas de produtos licenciados e para abocanhar cheques recheados, assim como o abdômen do atacante, dos patrocinadores.

O camisa 49 tenta a volta por cima no Galo
O Flamengo, ao contrário, confiou a contratação de um jogador, que receberia rendimentos na casa de 1,5 milhão de reais por mês, a uma empresa de marketing esportivo para pagar a maior parcela dos valores do camisa 10. Mas o “planejamento” não conseguiu atrair patrocinadores e o relacionamento do rubro negro carioca com a empresa paulista foi azedando em progressão geométrica até que, no começo de 2012, o clube carioca rompeu com o “parceiro” e se comprometeu a bancar todo o salário do Gaúcho.

O único problema é que o Urubu contava com o ovo que não havia sido chocado pela galinha, no caso a cota da televisão, e não conseguiu bancar o salário da maior estrela do seu elenco. Ao mesmo tempo, mostrando uma desorganização financeira e uma cara de pau inacreditável, contratou Vágner Love por cerca de R$ 30 milhões junto ao CSKA da Rússia.

Depois de cinco meses sem receber os direitos de imagem, o jogador entrou na justiça e ganhou o direito de realizar uma rescisão unilateral forçada pelo clube inadimplente. O montante da dívida chega a R$ 40 milhões, e não adianta agora querer transformar o atleta em demônio e fazer sua caveira pela sua falta de comprometimento com o clube e seu baixo desempenho técnico.

Ao contrário do que escreveu Renato Russo, Ronaldinho já não é mais tão jovem, pelo menos para o implacável mundo da bola, e o que foi prometido, e acertado em contrato, parece que ninguém prometeu e não se tem mais o que tempo que passou, tampouco todo o tempo do mundo. O suor sagrado do atleta dedicado e compromissado com a camisa, ou manto, foi pouco, ou quase nada, derramado pelo ex-melhor do mundo.  O sangue que o ex-craque deu foi para verificar a existência de álcool no seu organismo, ou como dizem os maldosos, verificar o nível de sangue no álcool do atleta.

Resta ao Flamengo brigar na justiça e tentar não pagar o valor estipulado em contrato ao seu ex-jogador. Com a truculência que é peculiar a administração de Patrícia Amorim, pintou-se um quadro onde pentacampeão do mundo é um vilão e só houve comprometimento do lado do clube.

Os sinais de que o R10 eram claros; desde a crucificação pública após a eliminação na Copa da Alemanha em 2006, o então melhor do mundo entrou em um redemoinho de farras, falta de comprometimento e um encontrou na ponta esquerda um porto seguro para sua falta de vontade em arrancar com a bola e fazer jogadas incisivas contra os zagueiros adversários. O Barcelona não brigou para que ele não se transferisse para o Milan, onde suas noitadas em hotéis ganharam mais manchetes que suas atuações.

Os vilões estão de ambos os lados. Se o jogador não se mostrou comprometido com o clube e com o time e vivia mais a noite carioca que os torneios do time profissional, o clube não conseguiu cumprir com todas as suas obrigações com o atleta e fez vista grossa para todos os atos de indisciplina de R10. Chegou a demitir Luxemburgo por problemas entre o treinador e o meia e nunca conseguiu controlar as escapadas do ex melhor do mundo.

https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgsCwV5SP_IU28DoIqnMPbiYm5WjAC6_u38lNvwp3iOwq_nm5uiCJCz794rkMvWpCvXKOvraSlPGYU3ZJrQvY8WdvX2SoOvNlEzVWJKdNQuGwGZTdzJOfVkLoVogIT7wwxK0wZca5Eaxs3Q/s400/Ronaldinho+Flamengo+Gr%C3%AAmio+pilantra.jpg
R10 saiu pela porta dos fundos da Gávea
No rubro negro carioca Ronaldinho foi Ronaldinho uma vez: na vitória do Flamengo sobre o Santos de Neymar por 4x3 na Vila quando o camisa 10 levantou no torcedor do Urubu um fio de esperança de rever o manto sagrado que já vestiu Zico ser, novamente, respeitado mundialmente. Mas, para a infelicidade da Nação, foi um lampejo que durou pouco mais de 90 minutos e os pagodes e festas voltaram a ser mais fundamentais para o meia.

Os dois lados estão errados em boa parte; o clube por não pagar um empregado e Ronaldinho por não agir como se espera de um atleta de ponta. Muito mais preocupado com suas festas e seus pagodes que com sua profissão, não foram raros os momentos em que chegou sem condições de treinar na Gávea.
O futuro do jogador segue incerto no momento, mas a verdade é quem será louco o suficiente para bancar um microempresário que é Eike Baptista? Não basta o seu procurador dizer quem ele é ou o que ele representa (ou representou) para o futebol. Águas passadas não alimentam os peixes e Ronaldinho não pode exigir tratamento de estrela de primeira grandeza quando ele realmente é uma lembrança de um facho de luz.

É uma pena para o futebol mundial assistir a uma decadência desse tipo. Ronaldinho é talento puro, poderia ser um craque inesquecível, mas vai entrar para o rol de grandes jogadores que tiveram momentos excelentes e nada mais.








2 comentários:

  1. Concordo, Gordo! Mas será que se ele recebesse seu salário em dia, ele teria insistido no mal comportamento? Deve ser desestimulante trabalhar a troco de nada, concordas? O fim foi triste! :/

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Acho que não resolveria o problema Bel, até porque quando ele estava no Milan (ITA) já não demonstrava tanto profissionalismo. Suas festas nos hotéis de Milão eram mais noticiadas que suas atuações. É claro que o fato de não receber os salários aliado à falta de profissionalismo que Flamengo tratou o assunto contribuíram para que o trem saísse dos trilhos de vez. É uma pena, Ronaldinho foi um belo jogador e hoje fica só a esperança de que ele um dia volte.

      Excluir