Na semana em que Wagner Moura
sofreu uma avalanche de críticas da esquizofrênica imprensa “especializada e
intelectual” musical brasileira, o meia Ronaldinho Gaúcho e o Flamengo
encerraram um curto relacionamento que não chegou a durar dois anos.
A primeira conclusão lógica que se pode tirar
da situação, e da enorme dívida que ficou para o clube carioca, é que o time
com a maior torcida do Brasil perdeu um precioso tempo; não apenas investindo
em um boleiro sem compromisso, como também de andar no caminho do futebol
moderno, onde o empreendedorismo e as táticas de grandes corporações
multiplicam aos milhões a receita das agremiações.
A demagogia quase coronelista
presente na Gávea mostra o tamanho do amadorismo com o qual um negócio tão
lucrativo é tratado de maneira quase irresponsável por torcedores, quando o que
se deveria era existir um quadro de profissionais para tratar dos negócios de
um dos mais tradicionais clubes do Brasil.
A República Popular do
Corinthians, que chegou a flertar com o “socialismo boleiro” durante a
democracia corinthiana, deixou de ser um reduto de torcedores oportunistas,
cujo objetivo era encher o próprio bolso e, se possível, conquistar algum
título.
O time do Parque São Jorge se
modernizou e, mostrando um belo exemplo de planejamento e organização,
transformou o decadente e barrigudo, mas muito carismático, Ronaldo Fenômeno em
um sucesso absoluto em vendas de produtos licenciados e para abocanhar cheques
recheados, assim como o abdômen do atacante, dos patrocinadores.
O camisa 49 tenta a volta por cima no Galo |
O Flamengo, ao contrário, confiou
a contratação de um jogador, que receberia rendimentos na casa de 1,5 milhão de
reais por mês, a uma empresa de marketing esportivo para pagar a maior parcela
dos valores do camisa 10. Mas o “planejamento” não conseguiu atrair
patrocinadores e o relacionamento do rubro negro carioca com a empresa paulista
foi azedando em progressão geométrica até que, no começo de 2012, o clube
carioca rompeu com o “parceiro” e se comprometeu a bancar todo o salário do
Gaúcho.
O único problema é que o Urubu
contava com o ovo que não havia sido chocado pela galinha, no caso a cota da
televisão, e não conseguiu bancar o salário da maior estrela do seu elenco. Ao
mesmo tempo, mostrando uma desorganização financeira e uma cara de pau inacreditável,
contratou Vágner Love por cerca de R$ 30 milhões junto ao CSKA da Rússia.
Depois de cinco meses sem receber
os direitos de imagem, o jogador entrou na justiça e ganhou o direito de realizar
uma rescisão unilateral forçada pelo clube inadimplente. O montante da dívida
chega a R$ 40 milhões, e não adianta agora querer transformar o atleta em
demônio e fazer sua caveira pela sua falta de comprometimento com o clube e seu
baixo desempenho técnico.
Ao contrário do que escreveu
Renato Russo, Ronaldinho já não é mais tão jovem, pelo menos para o implacável
mundo da bola, e o que foi prometido, e acertado em contrato, parece que
ninguém prometeu e não se tem mais o que tempo que passou, tampouco todo o
tempo do mundo. O suor sagrado do atleta dedicado e compromissado com a camisa,
ou manto, foi pouco, ou quase nada, derramado pelo ex-melhor do mundo. O sangue que o ex-craque deu foi para
verificar a existência de álcool no seu organismo, ou como dizem os maldosos,
verificar o nível de sangue no álcool do atleta.
Resta ao Flamengo brigar na
justiça e tentar não pagar o valor estipulado em contrato ao seu ex-jogador.
Com a truculência que é peculiar a administração de Patrícia Amorim, pintou-se
um quadro onde pentacampeão do mundo é um vilão e só houve comprometimento do
lado do clube.
Os sinais de que o R10 eram
claros; desde a crucificação pública após a eliminação na Copa da Alemanha em
2006, o então melhor do mundo entrou em um redemoinho de farras, falta de
comprometimento e um encontrou na ponta esquerda um porto seguro para sua falta
de vontade em arrancar com a bola e fazer jogadas incisivas contra os zagueiros
adversários. O Barcelona não brigou para que ele não se transferisse para o
Milan, onde suas noitadas em hotéis ganharam mais manchetes que suas atuações.
Os vilões estão de ambos os
lados. Se o jogador não se mostrou comprometido com o clube e com o time e
vivia mais a noite carioca que os torneios do time profissional, o clube não
conseguiu cumprir com todas as suas obrigações com o atleta e fez vista grossa
para todos os atos de indisciplina de R10. Chegou a demitir Luxemburgo por
problemas entre o treinador e o meia e nunca conseguiu controlar as escapadas
do ex melhor do mundo.
R10 saiu pela porta dos fundos da Gávea |
No rubro negro carioca Ronaldinho
foi Ronaldinho uma vez: na vitória do Flamengo sobre o Santos de Neymar por 4x3
na Vila quando o camisa 10 levantou no torcedor do Urubu um fio de esperança de
rever o manto sagrado que já vestiu Zico ser, novamente, respeitado
mundialmente. Mas, para a infelicidade da Nação, foi um lampejo que durou pouco
mais de 90 minutos e os pagodes e festas voltaram a ser mais fundamentais para
o meia.
Os dois lados estão errados em
boa parte; o clube por não pagar um empregado e Ronaldinho por não agir como se
espera de um atleta de ponta. Muito mais preocupado com suas festas e seus
pagodes que com sua profissão, não foram raros os momentos em que chegou sem
condições de treinar na Gávea.
O futuro do jogador segue incerto
no momento, mas a verdade é quem será louco o suficiente para bancar um microempresário
que é Eike Baptista? Não basta o seu procurador dizer quem ele é ou o que ele
representa (ou representou) para o futebol. Águas passadas não alimentam os
peixes e Ronaldinho não pode exigir tratamento de estrela de primeira grandeza
quando ele realmente é uma lembrança de um facho de luz.
É uma pena para o futebol mundial assistir a uma decadência
desse tipo. Ronaldinho é talento puro, poderia ser um craque inesquecível, mas
vai entrar para o rol de grandes jogadores que tiveram momentos excelentes e
nada mais.
Concordo, Gordo! Mas será que se ele recebesse seu salário em dia, ele teria insistido no mal comportamento? Deve ser desestimulante trabalhar a troco de nada, concordas? O fim foi triste! :/
ResponderExcluirAcho que não resolveria o problema Bel, até porque quando ele estava no Milan (ITA) já não demonstrava tanto profissionalismo. Suas festas nos hotéis de Milão eram mais noticiadas que suas atuações. É claro que o fato de não receber os salários aliado à falta de profissionalismo que Flamengo tratou o assunto contribuíram para que o trem saísse dos trilhos de vez. É uma pena, Ronaldinho foi um belo jogador e hoje fica só a esperança de que ele um dia volte.
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