quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Medidas extremas e desmedidas


A punição ao Corinthians que, em primeira instância e até julgamento de recurso, jogará sem torcida durante a Libertadores da América tanto atuando em São Paulo quanto fora é uma medida descabida, política e que em absolutamente nada vai resolver a questão se for tomada isoladamente.


Primeiro, não se pode punir exclusivamente o Corinthians. A Libertadores é um torneio organizado pela desorganizada Conmebol e o seu artigo 11 afirma que os clubes PODEM SER punidos em caso da torcida fazer uso de sinalizadores e as penalidades vão desde mera advertência até perda de licença, mas não faz nenhuma ponderação sobre como serão delimitadas essas punições.

A FIFA proíbe o uso de tais artefatos em estádios e a Conmebol sendo uma Confederação ligada a entidade máxima do futebol deveria pautar seus torneios pelas normas da Federação. Para piorar, os dirigentes sul americanos se esquivam de qualquer responsabilidade e jogam a culpa na polícia, mas a verdade é que cada um sabe onde o seu calo aperta.

O torneio é de responsabilidade da Conmebol e ela deve ser responsabilizada na medida em que não tomou as providências necessárias junto as autoridades locais para que materiais proibidos pela FIFA e pelo seu regulamento não entrem nas praças desportivas.

O San José também tem sua culpa, porque por mais que exista a proibição sua torcida faz até chuva de fogos de artifício na entrada do time e os sinalizadores eram amplamente usados. Por mais que fossem daqueles que fazem mais fumaça, que perigo, o que não pode, não pode e ponto final! Na regulamentação de segurança não fala em poder um tipo e não outro; não pode nenhum.

A polícia também está longe de ser inocentada neste caso, porque permitiu que tais artefatos adentrassem na mãos de pessoas não habilitadas e com riscos à segurança dos presentes, até mesmo para quem ia manuseá-lo. Qualquer polícia do mundo precisa de atuação preventiva e repressiva e a boliviana foi muito ativa nesta última, realizando prisões de suspeitos e cúmplices. 

O Corinthians também tem sua parcela de culpa na medida que os atos de violência de sua torcida são tratados como se não tivessem relação com o clube, o que não é uma verdade tendo em vista a relação muito próxima entre dirigentes das torcidas organizadas e do clube. Os mandatários do Parque São Jorge, como de grande parte dos clubes do Brasil, tem uma estreita relação com as organizadas por mais negativo e perigoso isso seja. 

O principal culpado, claro, é quem atirou o artefato. Pouco importa se o ato foi culposo ou doloso, pois o erro está  em utilizar em local público um artefato perigoso de forma extremamente imprudente sem ter a perícia necessária. Este assassino tem que ser tratado como tal e pagar conforme os ditames da lei e dos códigos processuais, sem que haja precipitações e pré julgamentos.

Todavia, no meio desse rebuliço todo o Corinthians foi condenado sem julgamento e sem direito à defesa prévia. Foi uma medida que desrespeitou todos os trâmites razoáveis de qualquer processo. Os integrantes da delegação da torcida que estão presos do mesmo sejam eles suspeitos de cometerem o ato ou cúmplices. Os dois que estavam com restos de pólvora nas mãos não eram os únicos com fogos naquela noite e as imagens até agora não mostram com clareza suficiente quem foi realmente o autor do disparo. Isso está me cheirando a tribunal ditatorial. Mesmo que o cidadão seja culpado deve passar por um processo justo e ser condenado. Não é simplesmente encarcerar e pronto. 

A punição pode até ser justa, mas é descabida quando se analisa o histórico da Conmebol. A entidade nunca puniu com tamanha severidade nenhum episódio de violência nos estádios sul americanos em suas competições. Muricy Ramalho levou um pedrada vinda da torcida do Cerro Portenho e não houve nenhuma punição, as torcidas de Santos e Penarol trocaram pedradas no Centenário em Montevideo e também nada de atitude Conmebol. O próprio Corinthians deveria ser punido pela confusão no jogo contra o River Plate no Pacaembu. Enfim, exemplos de omissão da nossa Confederação Sul americana são tantos que não me faz crer que desta vez a coisa seja mais séria.

De repente, não mais que de repente, a Conmebol resolveu virar uma entidade séria, rápida no gatilho e cumpridora da lei. Eu, sinceramente, espero que não seja fogo de palha e quando, inevitavelmente, acontecerem e episódios na Argentina e no Uruguai, a posição seja a mesma, porque lei existe para ser cumprida e o crescimento do futebol na nossa região depende muito de uma grande dose de seriedade. É esperar para ver se na hora do processo, quando o trabalho é grande e demorado esse estalo de consciência se manterá.

Nenhum comentário:

Postar um comentário