Já dizia Simonal: "Brasil
está vazio na tarde de domingo, olha o sambão, aqui é o país do futebol!".
Foi-se o tempo que concordei com ele. Não tenho mais tanta convicção que somos
o país do futebol; talvez tenhamos sido algum dia, mas vejo outras nações muito
mais apaixonadas pelo esporte que nós. Temos os nossos vizinhos argentinos que
não me deixam mentir.
Para ser bem sincero eu vi muito
mais times e peladas na rua em Buenos Aires, do que em qualquer cidade do
Brasil que já visitei. Argentino discute futebol e fala não só da liga local,
mas discute e conhece futebol do mundo todo. Pergunta a um brasileiro o que ele
acha do campeonato argentino; ele provavelmente conhecerá três ou quatro times
por conta da Libertadores e nada muito além disso.
Brasileiro, em geral, gosta é do
seu time! Ele é apaixonado pela sua equipe de maneira impar, mas grande parte
do público não liga muito para o resto
das agremiações, salvo aquelas rivais pelas quais muitos torcem contra.
Eu tenho certeza é que somos o país do carnaval! Nenhuma outra festa popular
tem a adesão que a folia de Momo.
Não sei se trata de uma visão
pernambucana demais, onde a festa marca o início efetivo do ano. As coisas até
lá são levadas em banho-maria até que o maior feriado do Brasil chegue. A frase
"O ano começa depois do carnaval" é a mais pura verdade. Recife e
Olinda, por exemplo, "respiram" o carnaval desde dezembro, quando os
ensaios dos blocos e algumas prévias já começam a pipocar.
O anseio pela festa é tanto que
as semanas que antecedem são lotadas de blocos de bairros e festas privadas
sempre lotadas, isso sem falar da semana pré, na qual a folia começa
imediatamente após o expediente. Não tem São João, Semana Santa ou nenhuma
festa que se compare ao grande evento de Momo. O folião gosta de tudo; pode vir
frevo, maracatu, ciranda, axé, samba, swingueira, que o molejo do pé não se
perde.
O torcedor, por outro lado, não
tem essa paixão generalizada. Quantos torcedores não santistas saem de casa
para assistir uma partida de Neymar, Forlan e Seedorf? Este último inclusive
está se acostumando a jogar para públicos ínfimos. Torcedor vai para o estádio
ver seu time e uma minoria gosta deste cômputo geral. Pode até ver pela
televisão, mas normalmente é de alguma equipe pela qual tem simpatia. É raro
ver um jogo pelo simples prazer de gostar do esporte.
O folião pouco se importa se
estava acompanhando um samba de ladeira, porque se na esquina seguinte vier um
bloco de maracatu ele vai atrás do mesmo jeito. Não que lhe falte fidelidade a
um ou a outro, mas a questão é outra. O carnaval é multicultural e hoje temos
até Djs internacionais na festa. Já o futebol não tem esse apelo, pois a paixão
que o torcedor a um clube é a mesma que o separa do resto.
Eu não tenho muita dúvida que os
5 dias de folia carnavalesca são mais aproveitados e adorados que os 360 de
bola rolando. Não venham me dizer que SE o Brasil fosse celeiro de craques como
Inglaterra e Espanha, os torcedores iriam mais aos estádios, mesmo que de
outros times. Eu continuo com minha certeza que não. Poderiam haver turistas ou
algum aficionado esporádico, mas no
geral não seria muito diferente.
É fato que durante os 90 minutos
esquecemos a casa e o trabalho, a vida e a cama ficam lá fora das
arquibancadas, mas isso não nos torna o país do futebol. Eu concordo quando se
diz "Domingo, eu vou para o Maracanã, vou torcer para o time que sou
fã". O espírito é esse, gostamos dos nossos times. Podemos ser o país dos
torcedores mais fanáticos, não sei, mas com certeza não somos o país do
futebol. Somos sim o país do carnaval!
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