quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

West Wall

Clássicos existem pelos quatro cantos do nosso redondo planeta nos mais variados esportes, mas o duelo entre West Ham United e Millwall, pela segunda divisão do campeonato Inglês, representa de uma forma peculiar como uma rivalidade bairrista entre trabalhadores comuns se transformou em uma das mais célebres rivalidades entre dois clubes de futebol. O duelo ganhou uma notoriedade tamanha no decorrer dos anos que foi agraciado com o filme Holligans, estrelado por Elijah Wood, cuja história narra as atividades da torcida organizada do West Ham que tem como ponto alto o duelo com o maior rival pela Copa da Inglaterra.

O curioso é que os dois times têm mais uma relevância histórica, que propriamente de glórias, títulos e
vitórias marcantes. O Millwall, por exemplo, passou toda a sua história entre a segunda e a terceira divisão dos torneios na terra da rainha e os troféus são raros para este clube centenário. O West Ham tem um desempenho um pouco mais honorável, não obstante quando joga a Premier League, a primeira divisão, ou briga para não cair ou fica no meio da tabela. A notoriedade obtida por este clássico veio mais pelo comportamento violento das duas torcidas que pelo futebol apresentado pelos times. Os embates entre os lunáticos torcedores, se é que podemos chamá-los assim, não raro deixam vários feridos e alguns mortos. O caso é tão sério que o primeiro jogo válido pela temporada 2011/2012 não foi transmitido pela TV pelo medo da truculência dos “donos” das arquibancadas. Um confronto em 2009 teve invasão de campo pelos holligans dos Hammers para provocar e agredir, dentro do estádio, os torcedores visitantes.

Apesar de toda essa notoriedade eu nunca tinha assistido a esse clássico. No último dia 04 de fevereiro eu sentei no sofá para ver o jogo e logo me chamou a atenção a segurança destinada para a partida. Acostumado a ver, no Brasil, as torcidas separadas por um cordão da polícia, fiquei surpreso ao ver uma parte considerável da área destinada aos fãs do Millwall, para que eles ficassem aglutinados em um setor fácil de ser controlado pela segurança. O knowhall da polícia inglesa em conter os violentos torcedores faz com que os principais pontos de acesso e trânsito dos que vão ao estádio sejam bem monitorados e a repressão é na mesma moeda. O problema está nos alleys, os becos tortuosos da periferia londrina, onde nem sempre a polícia chega, e as áreas pouco povoadas, preferidas para os encontros entre os brigões.

Um fato que me chamou a atenção depois de algum tempo foi perceber que o estádio estava com a lotação máxima permitida para o confronto, e que o jogo era mais parecido com o futebol real, e não com uma quase perfeita “simulação” de Playstation que passa sempre na ESPN ao assistir o Chelsea, Manchester United e City, o Arsenal, etc. O clássico era paixão, jogada feia, muitos jogadores do Reino Unido, como há muito não vejo na Premier League. Esse é o típico espetáculo que o apaixonado pelo futebol gosta de ver, porque os supertimes são bons para admirar, e assistir para deleite dos olhos, mas a realidade da grande massa não é ter Messi, Cristiano Ronaldo ou Rooney e sim os “craques da galera”, o melhor jogador do seu time no último jogo. 

Kevin Nolan foi expulso logo no começo do jogo

A partida em si não tem nada de mais. É um clássico como outro qualquer, aliás um clássico não é “um outro qualquer”, mas, em termos de rivalidade dentro das quatro linhas, não é muito diferente de um Real Madrid x Barcelona, Grêmio x Internacional, Milan x Inter de Milão, salvo pela elegância e charme que envolvem esses duelos de gigantes. O modesto Uptown Park foi o palco do espetáculo e como em qualquer confronto deste tipo a arbritagem foi severa e a primeira jogada mais dura foi punida diretamente com um cartão vermelho para um jogador do time da casa e, a partir daí, os remanescentes jogaram de maneira mais firme, sem, todavia, partir para jogadas mais agressivas. A vitória do West Ham foi o toque final de um espetáculo, que, se não foi tecnicamente maravilhoso, valeu pela experiência e só me resta, um dia, assistir in loco para fazer um novo relato.

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