segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Identidade Goleiro

Muitos torcedores e comentaristas reclamam que, no Brasil, não existe mais o amor à camisa, que os jogadores profissionais não têm mais uma profunda identificação com os clubes que defendem (salvo raras exceções ) e que vão para onde o dinheiro aponta. Faz-se uma comparação com grandes clubes da Europa onde boleiros passam carreiras inteiras em um único clube, jogando por lá 10, até 20 anos.
Aqui no nosso País, ao menos uma posição, percebe-se claramente essa particularidade: a de goleiro. Posição que, segundo os poetas da bola, de tão miserável e ingrata que é não deixa nem crescer a relva sagrada do campo de jogo. São jogadores cuja função é a mais ingrata do mundo do futebol; a de evitar o seu momento mais sublime, o gol. Eles ficam durante muito tempo observando o jogo sozinhos, comemoram gols, em grande parte das vezes, sós (ressalvando os goleiros artilheiros).
O caso mais emblemático e representativo é de Rogério Ceni. O arqueiro, que desde 1997 tomou para si a guarda da meta do São Paulo Futebol Clube, quando substituiu o maravilhoso Zetti, já está prestes a completar 1000 jogos pelo tricolor paulista, além de alcançado a incrível marca de 100 gols marcados pelo clube, fato que o alçou a ser o maior goleiro artilheiro da história do futebol mundial. O ápice de sua carreira foi a final do Mundial de Clubes em 2005 quando Rogério fechou o gol tricolor contra o poderoso Liverpool, da Inglaterra. Fez memoráveis defesas, principalmente em sua falta batida pelo capitão da equipe inglesa, Steven Gerrard. Ceni não é apenas um jogador do clube paulista, ele é o líder do elenco, o símbolo de um clube campeão, que é exemplo para muitas agremiações. Mas, acima de tudo, ele é um exemplo de profissionalismo e de como se deve levar a sério o futebol profissional.
O segundo da lista é Marcos do Palmeiras. Apelidado carinhosamente de São Marcos, após substituir Velloso, um dos maiores ídolos do clube, durante a Taça Libertadores, de 1999. Com defesas fantásticas e dono de um incrível reflexo para defender pênaltis, ele foi alçado a condição de santo. O ponto alto da vitoriosa campanha no torneio sul-americano foi a eliminação do arqui rival Corinthians tendo Marcos defendido um pênalti do pé de anjo do Parque São Jorge, Marcelinho Carioca. As suas excelentes atuações o credenciaram para ser o titular da Seleção Brasileira da campanha do pentacampeonato, na Copa de 2002. Ele sucumbiu junto com a equipe palmerense para a segunda divisão e subiu de volta para a elite do futebol nacional pela equipe alviverde. Porém, depois do torneio mundial o santo alviverde sofreu com contusões que minaram sua carreira, mas não diminuíram sua condição de ídolo e principal representante da fértil academia de goleiros do Palestra.
O terceiro não atuou apenas por uma equipe, mas Harlei, goleiro do Goiás desde 1999, criou uma profunda identificação com o esmeraldino goiano. Ele já levou o time da Série B para a Série A, recentemente fez o caminho de volta, mas ainda hoje aos 39 anos, está longe de ser contestado. Pelo contrário, ele é chamado de muralha esmeraldina pela imensa torcida do clube goiano. Harlei é a segurança da defesa goiana e o atual capitão já levantou diversos troféus pela equipe e, no ano passado, foi vice campeão da Copa Sul americana, mesmo sendo o time rebaixado para a segunda divisão. O arqueiro do Goiás pode não ter alcançado o sucesso dos dois anteriores, mas o mineiro, ídolo do maior clube do central do Brasil, é um exemplo de fidelidade e identificação.
Existem ainda, na minha percepção, outros três goleiros que merecem destaque. O primeiro deles é Magrão, que defende o Sport Recife há seis temporadas, mas galgado a posição de principal ídolo dos últimos anos. Carlinhos Bala, Ciro e Marcelinho Paraíba não se igualam ao paredão da ilha cujo prestigio está mobilizando torcedores que querem construir uma estátua do ídolo na sede do clube. Fábio, do Cruzeiro, é outro que merece destaque. O jovem arqueiro do clube mineiro já foi com a raposa a uma final de Libertadores e, desde o lendário Dida, a equipe não tinha um grande ídolo debaixo das traves. Por último, Victor, do Grêmio. O tricolor Gaúcho já estuda propor um contrato vitalício ao arqueiro que preencheu a lacuna deixada pelo ídolo Danrley, que conquistou com o Grêmio a Taça Libertadores de 1995.
Ainda estamos a quilômetros de distância em comparação com os clubes europeus, mas o abismo que separa essas duas realidades está, hoje, um pouco menor. Se um dia conseguirmos fazer e manter nossos jogadores por aqui e, a partir daí, tentar introduzir na cultura dos boleiros brasileiros a fidelidade ao clube será ótimo. Então, nada melhor do que começar pelos goleiros, afinal de contas quem não precisa de um ótimo camisa 1?

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