segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Isso não é futebol

A agressão feita pelo goleiro Gustavo, do Sport, contra o jogador Elivelton, do Vasco da Gama, durante a Taça BH de futebol Júnior foi um ato extremamente intempestivo, descontrolado e absurdamente covarde, mas, infelizmente, não é um caso isolado no futebol brasileiro. O descontrole emocional do atleta foi a exteriorização de uma ausência quase total da formação dos jogadores não apenas como atletas profissionais, mas também como seres humanos.
O exemplo que os jovens atletas têm de jogadores consagrados como Edmundo, que já se meteu em inúmeras confusões dentro e fora de campo, inclusive tirando a vida de pessoas, como também de Adriano e Vagner Love que se deixaram fotografar e filmar em festas promovidas por traficantes e simplesmente dizem que não vão abandonar suas raízes e não existe nenhum tipo de conseqüência não estimula, de forma nenhuma a boa formação cidadã dos jogadores das categorias de base em nosso futebol.
O próprio Sport  Club do Recife não dá um bom exemplo de conduta com atletas do seu elenco profissional envolvidos em casos de agressão. Na final do Campeonato Pernambucano 2011, o meia Marcelinho PB agrediu Everton Sena, jogador que o marcou, sempre de forma leal, nas duas partidas que decidiram o Estadual deste ano. O meia do Sport deu um soco por trás, sem chance de defesa, no atleta do Santa Cruz, foi devidamente expulso pelo árbitro da partida, mas a diretoria do clube não tomou nenhuma atitude disciplinar próxima a que resultou na demissão do jovem goleiro.
Não que a demissão seja errada, de forma nenhuma, mas uma agressão é uma agressão e deve ser tratada da mesma forma independente de quem a comete. Não é porque um está no começo da carreira e outro no final, que este último não responda de forma equânime. Esse juízo de valor torto e essa certeza, ou quase, de impunidade podem ter aumentado a influência sobre Gustavo para que ele cometesse um ato de tamanha insensatez. A presidência do Sport já anunciou que irá fazer um acompanhamento psicológico com o atleta para tentar identificar se existe algum problema dessa ordem com o jogador. Atitude louvável, mas repito por que não o fez também com Marcelinho?
Mas apenas a punição sumária da demissão é mais uma satisfação para a mídia e para os moralistas do que uma solução prática ajudar a pessoa humana. Casos recentes, como o do atacante Jóbson, do Bahia, mostram que muitos atletas problemáticos que tiveram uma segunda chance, às vezes até uma terceira, conseguiram dar a volta por cima e usufruir do esporte de maneira extremamente saudável, jogando o mais puro futebol. Não se pode simplesmente pegar um jovem jogador e bani-lo do clube. A punição tem que existir, mas antes de ser um jogador de futebol ele é um ser humano, passível de cometer erros.
O pior é que na semana anterior jogadores dos juniores do Clube Náutico Capibaribe pregaram um trote em um, pura coincidência, goleiro recém chegado do Rio Grande do Sul. O trote não foi uma brincadeira para fazê-lo interagir com seus novos companheiros de clube, mas uma covarde agressão regrada a socos e pontapés que fez o goleiro gaúcho fugir do alojamento dos atletas pular o muro dos Aflitos para pedir socorro e durante essa “fuga” ele machucou os dois pés. Por sorte não teve nenhuma fratura grave e sua carreira não será afetada por este fato. Os responsáveis pelas categorias de base do Náutico estão averiguando quem foram os responsáveis pela “brincadeira” e punir proporcionalmente à participação no caso, incluindo os que se omitiram tanto em ajudar o goleiro, como em avisar os dirigentes.
O futebol faz parte da essência do que representa ser um brasileiro, ele é um espelho de nossa sociedade. Não é possível imaginar o nosso País sem o esporte que o representa mundialmente. É fundamental que a discussão sobre a formação dos nossos atletas seja profunda, não podemos nos dar ao luxo de criar jóias amorfas encefalicamente, puramente programadas para realizar movimentos dentro de um campo de jogo, devemos nos preocupar com a formação e a educação dos nossos atletas que servem de exemplo para milhões de crianças de jovens no Brasil e no Mundo.

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